Crise nas farmácias (Artigo de opinião)

06-05-2012 21:43

Perante o estudo apresentado pela ANF e pelo seu presidente, João Cordeiro, em que no ano de 2011 quase metade das farmácias do país teve prejuizos resultantes da constante redução dos preços dos medicamentos e para além disso da mexida nas margens de lucro que as mesmas obtinham daquilo que é a sua maior fonte de rendimento, o medicamento.

Eu trabalho numa farmácia comunitária e sei que isto não é estatistica para aumentar os preços que os utentes pagam pelos medicamentos. Trata-se da realidade pois de cada vez que o Estado português decide baixar preços quem tem produto em stock ou consegue vender o que tem ou então fica com o prejuizo e há medicamentos a baixar 15 e 20 euros por embalagem. Façam as contas ao prejuizo.

Sinto que os cortes na despesa da saúde faz-se apenas à custa das farmácias que são empresas que sustentam postos de trabalho, que são uma grande força contributiva e que apesar de ninguém parecer querer admiti-lo são das primeiras portas a que o doente bate à procura de aconselhamento e com razão pois sabe que aí encontrará o seu farmacêutico, um profissional com uma formação acamédica de excelência e com a experiência acumulada pelo número de pessoas que atende e ouve todos os dias. Assim estrangulamos uma fonte de receita para economia portuguesa e os gastos do Estado nos Hospitais pelo contrário aumentou o que é inadmissivel. Mais uma vez sacrificios são para os outros enquanto o que reside no Estado continua a não contar como excesso de despesa.

Com muita pena vejo as farmácias fazerem propostas para reduzir horários, diminuir o número minimo de farmacêuticos que devem fazer parte do pessoal, não comprar medicamentos caros ou que deiam pouco lucro com vista a manter a integridade da sua saúde financeira. Assim vamos ter as farmácia menos disponíveis para a população porque irão fechar mais cedo, o atendimento será pior (sem desprimor para os outros profissionais) pois com menos farmacêuticos que têm uma formação académica superior em medicamentos e saúde - sim porque para saber como os medicamentos funcionam temos de saber como o corpo funciona e também ao saber para que servem conseguimos identificar os problemas que podem precisar deles - as suas dúvidas podem ficar sem resposta ou então com uma resposta genérica decorada e não explicada.

Espero que o Estado português consiga perceber que as farmácias são um dos pilares do SNS e que sem elas ficaremos com uma saúde pior e menos acessível. Não faz sentido fazer quilómetros para ir buscar a medicação como já se fazem para ir ao hospital ou centro de saúde - mais uma vez há sitios onde há farmácias e não há postos de saúde pública - porque a sua farmácia da terra teve que fechar porque não conseguia suportar as dividas.

Está na altura de compensar as farmácias pela informação e aconselhamento sobre a sua medicação que dispensam ao doente aquando da sua dispensa. Não devem ser os utentes a pagar mas sim o Estado. Porque cada doente que efectua a medicação de forma correcta tem menos complicações e logo menos internamentos e menos despesa representa para o SNS. Porque quando vamos ao médico pagamos exactamente por isso por uma aconselhamento especializado, e quem vai a médicos particulares sabe muito bem quanto custam esses conselhos (diagnósticos). É apenas justo que as farmácias sejam também compensadas monetariamente por isso.

Está na altura de ajudar a salvar a primeira porta de entrada no SNS aquela onde vamos para pedir algo para a constipação, para as dores, para ter mais energia, para as mais variadas maleitas, para saber se procuram um médico e que médico devem procurar, para marcar exames, para ver o estado da sua saúde com os testes e medições, para pagar a reforma ou só para desabafar e perceber a sua doença e o seu tratamento.

Gostava que o Estado tivesse essa capacidade de perceber a importância das farmácia comunitárias e as consiga colocar no esquema do SNS.

É só a minha opinião e deixo aqui uma hiperligação para um artigo de opinião de uma antigo professor meu eex-bastonário da ordem dos farmacêuticos Prof. Batel Marques:

https://www.mynetpress.com/pdf/2012/maio/201205062bd1ad.pdf

Tópico: Crise nas farmácias (Artigo de opinião)

Não foram encontrados comentários.

Novo comentário