Ansiedade

21-08-2015 10:48

 

Definição

A ansiedade é uma resposta normal a uma ameaça ou stress psicológico, logo é algo que todos nos sentimos ocasionalmente. Tem a sua raiz no medo e é importante para a nossa sobrevivência pois induz uma resposta de fuga ou luta provocando um maior aporte de sangue aos músculos com o aumento do batimento cardiaco de modo a que o corpo esteja preparado para a luta.

É considerada uma perturbação quando acontece com muita frequência e sem motivo aparente (por exemplo quando estamos deitados) ou então quando é uma sensação tão intensa e duradoura que afecta a actividade diária normal. Isto porque a ansiedade e a eficácia das nossas acções seguem juntas e existe um nivel óptimo que conjuga ansiedade e eficácia pois a ansiedade também nos torna mais atentos (aumenta o nosso estado de alerta que é aquele em que estamos preparados para o desconhecido). Quando esse nivel é ultrapassado começa a perturbar as funções normais do dia a dia.

A perturbação da ansiedade é oscilante podendo estar adormecida muito tempo e depois piorando em alturas de maior stress. Estas pessoas sentem uma sensação de angustia (peso no peito, palpitações e um desconforto geral).  

 

Causas

Assume-se que haja uma pré-disposição genética para a ansiedade pois trata-se de algo que acontece mais no seio de uma familia do que no resto da população. 

Existe também uma relação entre um desiquilibrio entre os neurotransmissores que regulam o estado de alerta e a predisposição para a "luta", como a adrenalina e a noradrenalina, e aquele que regula o estado de calma e tem efeito tranquilizante o GABA. Pode estar um em excesso ou o GABA em concentrações demasiado baixas.

Uma pessoa que tenha uma personalidade dependente, com uma baixa auto-estima, tem têndencia para sofrer de ansiedade pois sente-se desamparada se estiver fora da sua zona de conforto reagindo o corpo aumentando os neurotransmissores de fuga e como tal desencadeando uma crise ansiosa. Quando sujeita a adversidades mais intensas e prolongadas vivem num estado constante de ansiedade (sofrer por antecipação).

Pode ser causada pelo uso de drogas, álcool e estimulantes especialmente após o uso durante a chamada fase de ressaca em que as pessoas não estão sobre o efeito do quimico. Alguns medicamentos podem causar sintomas semelhantes aos da ansiedade por terem na sua composição cafeína, efedrina ou teofilina (usada no tratamento da asma) pois são quimicos que estimulam o corpo e o deixam mais alerta e agitado. A ansiedade pode aparecer durante o desmame de antidepressivos e dos calmantes especialmente que este é feito demasiado depressa.

 

Tipos e manifestações da ansiedade

 
Ansiedade generalizada 

Uma ansiedade que está sempre presente representando uma inquietação, uma insegurança e um receio pelo futuro muitas das vezes sem razão aparente. 

Manifesta-se com sintomas fisicos e psicológicos como angústia, boca seca, tremuras, tonturas, dores de barriga, diarreia, obstipação (prisão de ventre), vontade de urinar... A ansiedade acaba por interferir com o normal ciclo de sono pois o aumento da adrenalina e da noradrenalina provocam um estado de alerta que impede o sono. Como tal acabam por ter sonolência durante o dia e dificuldades de raciocinio tornando-se mais lento. Tem tendência para alterar o desejo e o desempenho sexual.

 
Ataque de pânico

O normal ataque de pânico que todos podemos sofrer acontece quando somos colocados perante as nossas fobias ou medos intensos, por exemplo se alguém tem medo de cobras quando colocado perante o animal vai provavelmente ter um ataque de pânico. Isto é um acontecimento normal, não indica nenhuma doença. Quando os ataques acontecem de forma espontânea e sem qualquer factor desencadeador aí sim poderemos estar perante uma patologia.

Podemos identificar algo como um ataque de pânico quando dos seguintes 4 sintomas aparecem ao mesmo tempo ou seguidos:

  • dor ou incomodo no peito;
  • sensação de falta de ar;
  • vertigens, desmaio;
  • medo extremo de morrer;
  • medo de enlouquecer;
  • agitação, desconforto ou arrepios;
  • naúseas, dor de barriga ou diarreia;
  • formigueiro;
  • palpitações
  • falta de ar;
  • suores e/ou tremores

Normalmente estes sintomas desaparecem sozinhos ao fim de 10 a 20 minutos. Se estes ataques acontecerem com frequência mais do que 1 ou 2 por mês deve consultar o médico para iniciar tratamento após avaliar que realmente se trata de um distúrbio de ansiedade e não outra doença.

Tratamento farmacológico

Ambas as demonstrações são tratadas da mesma maneira normalmente recorrendo às benzodiazepinas (alprazolam, diazepam, clorodiazepoxido, mexazolam), à buspirona, aos inibidores selectivos de recaptação de serotonina (andipressivos como a paroxetina).

Benzodiazepinas - Alprazolam, Diazepam, Lorazepam...

São as mais usadas para o tratamento da ansiedade generalizada e dos ataques de pânico devido à elevada eficácia e à diminuida toxicidade. Tal acontece porque aparentemente, pois não se sabe bem como funcionam, as benzodiazepinas actuam paralelamente ao GABA (hormona oposta à serotonina porque é a responsável pelo estado de calma) tornando este mais eficiente. Como se pode ver como a acção directa é muito pequena e actua por facilitar a acção de um químico já existente torna-se bem tolerada e o seu efeito depende também da quandidade de GABA presente no corpo.

Existem benzodiazepinas de diversas velocidades de acção e duração de efeito algo que tem a ver com a sua lipossolubilidade e pela sua estrutura química. Temos o diazepam (famoso Valium) que é uma benzodiazepina de longa acção e o alprazolam (mais famoso Xanax) que é de mais curta duração.

Reacções adversas: A mais comum é também muitas das vezes um dos efeitos mais procurados, a sonolência. Causa também cansaço fácil, dores musculares (moleza); indiferença emocional e em algumas mulheres pode ocorrer irregularidades menstruais. Com a indiferença emocional vem também um certo distanciamento fisico e mudança do apetite sexual. Existe uma perda de memória associada e uma dificuldade de raciocinio pensando mais devagar e com maior dificuldade de ligar as coisas. Por vezes parece ficar uma ligeira gaguez que se acentua com o aumento da dosagem.

É nos idosos que ocorrem a maior parte das reacções adversas e normalmente mais intensas e pode mesmo causar confusão, falta de memória e incontinência. Todos estes efeitos são dose dependentes, logo quanto maior a dose maior a probabilidade de acontecerem.

Estes químicos causam dependencia fisica e emocional como tal para deixar de os tomar deve faze-lo gradualmente de modo a não sofrer de sindrome de abstinência (insónia, tremuras, agitação, nervosismo, enjoos, ansiedade, diarreia...). Os doentes desenvolvem tolerância e habituação ao medicamento logo pode sentir ao fim de alguns tempos um menor efeito. Não devem nunca aumentar a dose sem consultar o médico pois muitas das vezes é preferivel mudar de medicamento ou adicionar outro diferente.

Interacções: Não deve beber alcool e tomar este medicamento porque o medicamento vai aumentar o efeito do álcool o que pode levar à depressão do centro repiratório e como consequencia ao coma porque os pulmões deixam de funcionar e ocorre a perda de consciência. Todos os medicamentos que sirvam como calmantes ou antidepressivos vão aumentar o efeito deste medicamentos. Os quimicos como os antifungicos (cetoconazol, itraconazol..) vão aumentar o efeito das benzodiazepinas assim como o sumo de toranja e a erva de São João ao aumentar a concentração das benzodiapinas por impedir a sua destruição logo elas ficam mais tempo a circular no corpo na forma activa e vão fazendo mais efeito. Aqui também podemos incluir a pilula e os bloqueadores dos canais de cálcio.

 

Buspirona (AnsitenR, BusparR)

Tem efeitos redutores da ansiedade apesar de não ter afinidade para o GABA nem relação com as benzodiazepinas. Actua sendo antagonista parcial da dopamina (receptores D2) que é responsável pelo controlo das funções motoras e da excitação e organização das funções mentais superiores. Se a dopamina está em elevada concentração este processo mental está desorganizado, como se se trata-se de uma sobrecarga eléctrica na nossa casa fazendo com que as luzes pisquem de modo errático. Assim a acção da buspirona controlando esta sobrecarga faz com que o corpo esteja mais controlado e que funcione de um modo mais eficaz e sem sobrecarga. A buspirona também actua como a agonista parcial dos recptores 5-HT imitando assim a serotonina que é a responsável por nos sentirmos bem. Logo está indicado em quem tem os sintomas fisicos da ansiedade generalizada como tremores, palpitações, suores, mãos frias, agitação, dificuldade de concentração entre outras. Não causa sonolência nem sedação porque não tem afinidade para receptores GABA. Não causa dificuldade de concentração daí ser usada com frequência em quem precisa de se manter alerta e mesmo assim controlar os sintomas persistentes da ansiedade embora isto possa variar de doente para doente e cada um deve ser o seu próprio juiz para não se colocar a si e aos outros em perigo. Tem como principal problema o facto de o seu efeito só se notar ao fim de 1 a 3 semanas de tratamento logo não é útil no tratamento de ataques de pânico. Tem uma menor probabilidade de causar o sindrome de abstinência logo é menos provável ser viciante como as benzodiazepinas. A sua toma ocorre normalmente ao deitar variando a dose entre 10mg e 30mg.

Reacções adversas: Tonturas, cefaleias, vómitos e nauseas são as mais frequente e também as mais reponsáveis pelo abandono da terapêutica. Pode ocorrer também uma dor inespecifica no peito.

Dentro das reacções que o devem deixar alerta são tremores involuntários, alterações na sua tensão arterial e/ou frequência cardíaca, alteração de personalidade e delirios. Pode também levar a um aumento do apetite.

Interações: Os alimentos levam a um aumento na acção da buspirona logo deve ser tomada afastada da hora da refeição. Não possui no entanto interação como o álcool ao contrário das benzodiapinas.

O uso simultâneo com verapamilo, diltiazem e itraconazol leva a um aumento da concentração da buspirona o que consequentemente produz uma maior incidência de efeitos secundários relacionados com a buspirona. O mesmo acontece quando se usa cimetidina (protector gástrico).

O varfine não é deslocado das proteínas plasmáticas logo o seu efeito não é alterado pela presença da buspirona embora tenha ocorrido uma pequena alteração no tempo de protrombina logo quando se toma buspirona deve-se informar o controlo de sangue de modo a fazer uma vigilãncia após o inicio da toma.

Tratamentos alternativos

Medicamentos à base de plantas: Existem algumas plantas com efeitos comprovados no controlo da ansiedade ligeira como a Valeriana numa dose de aproximadamente 450mg em toma única diária podendo ser aumentada para duas tomas diárias. A Valeriana imita o efeito das benzodiazepinas em termos de acção tranquilizante sem ter um grande efeito de indução de sono. Outras plantas que demonstram ter efeito ansiolítico são a Ginkgo Biloba, a Matricaria recutita (camomila), Passiflora incarnata, Galphimia glauca (esta com resultados muito prometedores), lúpulo, óleo de Lavanda (tem com resultados de ensaios clínicos muito prometedores com uma eficácia muito semelhante à das benzodiazepinas em doses mais baixas). Um outro preparado que começa agora a ser muito utilizado são suplementos com base de melatonina que é uma hormona que o corpo produz que tem como função a regulação do nosso relógio biológico indicando quando é hora de descanso (aí as concentrações de melatonina são mais altas) e quando devemos estar despertos (com concentrações mais baixas da hormona). Neste caso os suplementos têm uma concentração inferior a 2mg sendo que a partir daqui são considerados medicamentos. Este medicamentos regulam o ciclo circadiano (ciclo de sono e vigilia) o que permite que tenha uma eficácia na regulação a longo prazo e não tenha uma base de habituação são um produto com boas potencialidades na regulação do sono associada à perturbação da ansiedade.